Primeiro dia útil depois da final da Libertadores 21. Botei a camisa do Mengão pra lavar, guardei a camisa reserva (que tinha levado pro caso de algum acidente), pendurei a bandeira (OFICIAL) na porta do quarto de novo e comecei a pensar: “O que tenho pra fazer na segunda-feira?” pra dar aquela distraída.
Mas o pensamento sempre voltava - PORRA, RENATO. PORRA, ANDREAS. Nitidamente culpados, instantaneamente condenados, inutilmente xingados. A indignação de perder algo que a gente sempre achou que já era nosso (talvez aí o primeiro erro?) nos leva a procurar e apontar culpados com uma rapidez enorme. E isso não acontece toda hora?
A culpa é um negócio meio forte. É quase a mesma coisa que responsabilidade (spoiler!), mas só que pra coisa ruim. Só posso imaginar o sentimento de culpa que deve ter tomado o Andreas Pereira, que cometeu um erro crucial num momento péssimo, e praticamente sacramentou o resultado que vimos. Como olhar pra isso sem se sentir esmagado, soterrado? Como olhar pras negligências, pros crimes cometidos por mim sem sentir essa condenação automática, essa “prova” de que eu não sirvo pra nada, só pra causar danos em mim mesmo e nos outros?
O trabalho psicológico que deve ser feito após um momento como esse é importantíssimo, não há dúvidas. Ajudar o “culpado” a levantar a cabeça é essencial! Mas… e antes? Não tem nada pra ser feito antes da culpa, do erro, do crime, do bug na hora de decidir pra quem tocar a bola?
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Anos atrás precisei fazer esse trabalho de depois aí. Olhar pras negligências e pros danos causados por mim e entender melhor os pormenores. Doeu bem, não nego. Mas além da dor de mexer em feridas já meio velhas, outras coisas aconteceram também, como saber melhor de onde eu vim e do que sou feito, o que foi causado pelas minhas inclinações naturais (temperamento?) deixadas sem controle, o que foi outra pessoa que causou, e como entender quais decisões, reações, atos e palavras foram de minha…
Responsabilidade.
E, apesar de serem palavras que querem dizer coisas parecidas como já vimos, transformar uma culpa em uma responsabilidade muda TUDO. A mudança que acontece aqui é como se você deixasse de ser passageiro de um trem desgovernado pra ser maquinista desse mesmo trem. Ainda desgovernado. Mas você pode fazer algo! Melhor fazer, ele tá desgovernado, você pode morrer! E matar gente! Anda!
Tomar o controle das coisas - um jeito de fazer isso é assumindo a responsabilidade pelo ocorrido. Responder por isso, bater no peito e dizer “sim, fui eu, perdão, não vai acontecer de novo!” e tomar a luta pra si. Vira essa chave aí na sua cabeça em uma situação, pelo menos, pra você ver só uma coisa.
A gente tende a subestimar a força da justa indignação. Talvez por um pensamento “paz e amor” demais que nos faz sermos inertes perante as porradas que a vida dá, achando que nunca devemos ser violentos. Mas devemos! É essa a violência justa que temos que ter. A violência contra o marasmo no qual a culpa nos afoga, por acharmos que o problema está lá fora e a solução também. Surpresa: tanto o problema quanto a solução estarão aí dentro, onde é pra queimar esse fogo violento do ódio contra tudo aquilo que vai contra a nossa natureza. A vida é luta, não adianta espernear, o choro é livre mas só serve se for pra botar pra fora algo que a mente e o coração já não conseguem segurar. Caso contrário é apenas manha. E criança manhosa, a gente dá aquela ignorada.
Esperamos uma resposta da vida, quando a resposta é pra ser dada por nós. Qual é a sua?
Muito bom! No café vou levantar uns pontos para nós!
Que maravilha Reis! Brilhante meu amigo!